quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Terra escura

Como pode
tanto brilho caber dentro de um unico olhar?
esse que me faz tantas coisas com 'ar':
brincar, perder ar, verbalizar, voar-sonhar.

Como pode
um simples sorriso me fazer simplesmente parar?
parar assim:
ser e estar, ficar, imaginar, sorrizar, pensar sem pensar.

Voce me bagunça me arrumando,
voce vai, ficando.
Ficando voce vem chegando,
chegando entrando.

Em tum -tuns dançantes me pego,
te pego,
tu pega,
e no espelho agente se vê.

Vejo vários em dois:
sol na lua, estrela na rua,
musica em ouvido, musica escondido.

Vejo uma laranja também,
essa que me deixa assim.
Assim digo que feliz meu bem.

Voce me é poesia de cada dia,
mesmo em calada, em silêncio sonata.
Um soneto daqueles bem ritmado rimado,
que é respirado e falado.

Que gestos se tornam palavras.
Que palavras sejam tatuadas
em dor que chora sorrindo,
pra fazer brotar um quem sabe "que maravilindo!".

Palavras brotadas de terra desritmada,
já mais clara,
dançante ou parada,

que florescem em constante primavera:
flores e estrelas,
rubores e sorrisos,
vozes e poemas,
soneto e poesia.

Autor: K. Rodrigues




quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Zaluzejos

"Se você chegasse bem de mansinho, escondido nesse seu silêncio encantador, espalhando o cheiro daquele perfume que me lembra campina em dia de chuva, sem nenhum som, medindo os passos, sem abrir a boca pra falar que me ama, eu deixaria você morar aqui dentro. Se você sentasse ao meu lado no sofá, passasse o braço por cima do meu ombro, escorregasse a cabeça para cheirar minha pele, beijasse bem de leve o meu cabelo, eu ficaria parada e entregaria o que mais tenho de valioso: minha mudez. Eu não o quebraria com minha voz nem o amedrontaria com o meu discurso típico de quem sabe de defender. Eu seria não mais que uma vítima da nossa eternidade estática, onde só se escuta o ar a entrar e sair dos pulmões, nossos corpos querendo adormecer, a preguiça que nos invade depois da segurança de um silêncio acoplado no amor. Bastaria ser, bastaria estar. Bastaria sentir seu rosto bem perto, nenhum movimento, nenhum gesto brusco. A gente no meio do nada descobrindo que tudo está no meio da gente. A gente no meio de tudo descobrindo que nada importa, além de nós dois." 

domingo, 11 de setembro de 2011

Segredo

Poeta poetiza
a poesia
de um poema de dentro,

tão isolado,
e agora pluraziado
em palavras lacradas.
Autor: K. Rodrigues

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

São Eles II


Que de longe foram,
mas depois vieram
numa intensidade sem igual.

Vieram, voltaram, então
ficarão. Assim agora de tão perto
vejo muito mais cores,
essas que vivem me pegando e me molhando.

Molhando muito,
jogando essas cores pra dentro
de um par de olhos negros sem cor.
Que um brilho especifico
faz deles mel.

Um brilho tão forte,
um que não imaginava existir,
nem mesmo cogitava em tal coisa.
Mas talvez essa era a força do insistir.

Um brilho aceso-apagado sempre,
que em rubores acendia,
em rubores ardia,
em brilho brilhava-brilha.

Embaçar de poeta não tem mais porque,
porque? por que poeta nao sou,
ou tento não ser.

Poeta é um ovo de casca sorridente,
e de resto resto. Um declamador
de segredos meio requintado.
Mas deixa isso para um depois, ou
para algum antes, em tablado.

Porém,

encharcado de cores eu me sinto,
e sorrindente tento seguindo
parar aquela minha-nossa sina,

que me deixa ovo
e me faz não-mel tambem farto de embaçar.

São eles, aqueles que me causam dor,

dor de merthiolate...
dor de agua corrente...
dor de própolis...
Só não dá dor de dente, eles que não me enjoam.

Ai, mas espere!

Sinto mais um sorriso no meio dessa bagunça...
Caiu verde em minha camisa.
Autor: K. Rodrigues
Sequência de São Eles

sábado, 3 de setembro de 2011

Autopsicografia - Fernando Pessoa (voz: Kelvin R.F.)

Acho que o poeta que talvez não saiba...
Aquele Obrigado vai para 2 pessoas...
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem também,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa
Publicado in Presença, n.º 36, Novembro de 1932.
Fernando Pessoa, Obra Poética e em Prosa, ed. António Quadros. Porto, Lello & Irmão, 1986.

Pedidos mau-bem feitos

Me deixa sair?
    
Me deixa fugir?
Me deixa ser eu? eu posso ser eu?
Posso te pedir pra não me mudar? Se mudar, posso voltar?
Deixa vai, prometo andar na linha, sei que voce pode se zangar.
Me deixa viajar?
Me deixa te conhecer? posso?
Posso convidar alguem? pode ser assim, acompanhado?
Posso sorrir aqui e ali sem ser notado?
Com gente, com gentes, familia e amigos.
Sorrir indissoluvelmente.
Chorar sem precisar fechar os olhos.
Olhar e olhar sem cansar voce.
Por favor, me deixa fazer tudo isso?
Quero saber, quero ser e não ser, e questionar e notar.
Não quero calar mais, não quero postergar tudo por sua causa,
Ou mesmo eliminar.
Ah! Me desculpe não quero ser grosseiro
Falo agora sim com educação.
Do jeito que consegue ouvir, só não me machuque mais.
Só me deixe ser eu...
Deixa...mundo?

Autor: Kelvin Rodrigues Ferreira


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